domingo, 29 de agosto de 2010

Grandes artistas surgem no vácuo silencioso da inexpressão dos sentimentos

Só é possível compor uma melodia, fazer um arranjo musical ou mesmo escrever a letra de uma música capaz de tocar profundamente a alma humana quando seu autor se alimenta da inexpressão dos amores e das dores pelas vias comuns.

Só há obras-primas na pintura, porque o pintor ao plasmar o redemoinho de emoções que avassala o seu íntimo em uma tela envolta por um turbilhão de cores, combinações e texturas, acaba por revelar o tesouro escondido atrás de seu silêncio inexpressivo.

Já o escritor grita, chora, ama, odeia, sussurra, morre, mata, muda, mas não fica mudo...

Todos os momentos de tormenta e tempestade interior, contidos em um silêncio emotivo exterior, tornam a ser revividos, reescritos e reinventados, mas, desta vez, no papel.

E só alguém com esta habilidade de suportar tantas mudanças meteorológicas da alma, sustentando a inexpressão do que se passa em seu íntimo é capaz de se conectar intimamente ao leitor e transformar em palavras dirigidas a ele a empatia do que é ser humano.


E para ilustrar isso, nada como a música “Pais e Filhos”, do Renato Russo, ídolo da minha geração.

Não conheço uma pessoa que não seja tocada profundamente ao refletir sobre o conteúdo desta canção.

Com certeza, Renato Russo era um artista perturbado pela sua dificuldade de expressar emoções pelas vias comuns, basta conhecer sua biografia.

Pais E Filhos
Composição: (letra: Renato Russo - Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá)

Estátuas e cofres. E paredes pintadas.
Ninguém sabe o que aconteceu.
Ela se jogou da janela do quinto andar.
Nada é fácil de entender.
Dorme agora.
É só o vento lá fora.
Quero colo. Vou fugir de casa.
Posso dormir aqui com vocês?
Estou com medo. Tive um pesadelo
Só vou voltar depois das três.
Meu filho vai ter nome de santo.
Quero o nome mais bonito.
É preciso amar as pessoas como se
Não houvesse amanhã.
Porque se você parar para pensar,
Na verdade não há.
Me diz porque que o céu é azul.
Explica a grande fúria do mundo.
São meus filhos que tomam conta de mim.
Eu moro com a minha mãe
Mas meu pai vem me visitar.
Eu moro na rua, não tenho ninguém
Eu moro em qualquer lugar.
Já morei em tanta casa que nem me lembro mais.
Eu moro com os meus pais.
É preciso amar as pessoas como se
Não houvesse amanhã.
Porque se você parar para pensar,
Na verdade não há.
Sou uma gota d'agua
Sou um grão de areia.
Você me diz que seus pais não lhe entendem.
Mas você não entende seus pais.
Você culpa seus pais por tudo.
E isso é absurdo.
São crianças como você
O que você vai ser, quando você crescer?


terça-feira, 24 de agosto de 2010

FEIRA BOLIVIANA no Pari: Mais uma prova de que tudo o que existe no mundo, pode ser encontrado em São Paulo!!!




Foi no domingo que passou. Aquele sol que todos nós merecíamos acordou sorridente e resolveu sair de casa, depois de pelo menos uma semana de introspecção depressiva.
Fui acordada com um telefonema às 10 h da madrugada.

- Carol!!! O que tu achas? A gente podia fazer um programa bem exótico hoje? Material fresquinho para o teu blog!!!
Eu já tinha dito que topava antes mesmo de ouvir o que era. Tática da minha amiga Flávia para garantir o resultado, ou seja, que eu fosse junto com certeza. Coisas excêntricas estimulam o meu cérebro e a minha recusa em participar seria tão improvável quanto cair um meteoro em plena Avenida Paulista às 18h de uma sexta-feira. Falando nisso, adoro a metáfora do meteoro! rs
Bem, juntamos o nosso pequeno bando e partimos para a feira, de metrô, afinal no grupo ninguém sabia se localizar muito bem de carro na região do Pari.
Descemos do metrô e caminhamos em torno de três quadras, o que foi suficiente para cruzar a fronteira entre o Brasil e a Bolívia. Chegamos na feira.

Passei a ouvir espanhol. Português também, é claro! Cidades que fazem fronteira costumam ter os dois idiomas dançando juntos nos lábios das pessoas.
Índios. Muitos. Tive certeza de que era estrangeira e por pouco não procurei o passaporte na bolsa. Artesanato típico. Cor. Muita cor. Vermelho, Roxo, Rosa, Verde, tudo misturado.












Ah e a comida!!! Humm...comi Enchilada de Pollo e de Carne, acompanhadas de Mocochinchi! Delícia!













Muito interessante foi descobrir que existem espécies tão diferentes de batata e de milho. Quis até comprar para experimentar, mas fiquei na dúvida se saberia como preparar. Melhor ficar na vontade, assim tenho motivos para voltar lá de novo.




Mas o que marca esse momento é aquilo que sempre digo desta megalópole, que acolhe os tipos mais distintos: o que não existe em São Paulo, não adianta procurar, não existe no mundo! 
Acredito que nem morando mais trinta anos nesta cidade vou conseguir conhecer toda a riqueza cultural que ela é capaz de comportar.







sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Só quem já foi auditor/consultor de Big Four vai entender isso

Sexta-feira, 15h29min. Faltam 46 minutos para acabar o expediente. Estou sentada olhando a tela do computador e não tenho nem vontade de trabalhar e nem vontade de “morcegar”, fingindo que estou trabalhando. Já pesquisei tudo o que queria no Google. Já li desde sites de notícias importantes até matérias leves no estilo “como combinar meia-calça colorida no inverno para arrasar em um look fashion”.

Eis que olho pro lado, para a direção onde fica a mesa de um gerente que está de licença-saúde e vejo duas mulheres sentadas, de frente uma para outra, bastante compenetradas, trabalhando em seus notebooks.

Na área em que trabalho, todos temos desktops, logo, só podem ser terceiras, prestadoras de algum serviço pontual.

Resolvi observar, afinal o tédio me dominava. De onde eu estava, podia ver a tela do notebook da mulher que estava de costas pra mim. Planilha complexa em Excel. Ela, sentada de mau jeito, se contorcendo toda para conseguir trabalhar em posição tão desconfortável, já que não havia espaço para suas pernas embaixo da mesa. Coçadas na cabeça, revelando dúvida. Franzidas de testa. Deleta e apaga. Refaz. Que aflição...

A outra, sua colega, estava sentada bem confortável, na cadeira do gerente licenciado. A melhor cadeira. Giratória, macia e ampla. Tinha mais espaço na mesa também. Em cima e embaixo, para esticar as pernas, se quisesse, até, quem sabe, provocar câimbra na panturrilha. Tinha um semblante de paz, de tranquilidade. Que sossego...

A Sossegada falou algo que não pude ouvir. A Aflita então se abaixou abrindo uma mala de viagem, de rodinhas. Tirou de dentro vários papéis, uma garrafa de um litro de água e a fonte de alimentação do notebook. Não a que lhe pertencia, mas a do computador da Sossegada.

Procurou a tomada, plugou a fonte. Serviu água. Leu documentos. Discutiu o que leu e entregou para a Sossegada. Voltou para a sua posição de contorcionista, agora tentando fazer a meia lótus da Yoga, pra ver se aliviava a dor nas pernas. Cara de aflição.

Neste momento virei para meu colega e perguntei: “as duas mulheres na mesa do gerente licenciado são auditoras, né?”

Meu colega responde: “sim, são auditores de SOX.”

Então sorri, num misto de “triste constatação” com “agradecimento por não fazer mais parte disso” e disse a ele: A Sossegada é a auditora sênior. A Aflita ou é trainee, ou é auditora pleno ou júnior, mas a responsável pelo trabalho é a Sossegada. Quem de nossa equipe está atendendo elas?"

Meu colega respondeu que ainda não estavam analisando nossa área, mas referiu quem de outro departamento estava fornecendo documentos no momento.

Para complementar, relatei a ele detalhes do que havia observado e ainda aproveitei para dizer: “posso apostar que quem sempre vai pedir os documentos para o nosso pessoal interno é a Aflita. Está muito evidente a ‘hierarquia e o modo de trabalho Big Four’.”

Meu colega não aguentou. Virou-se para mim e disse: “assim não vale!. Você deve ter conversado com seu chefe antes e agora está me dizendo tudo isso só pra me impressionar!!! Realmente quem sempre pede documentação é a Aflita! Ou então, você é muito perspicaz pra ter percebido tudo isso sozinha!”

Infelizmente tive que responder que de perspicácia, minhas observações não tinham nada, foram as marcas do caminho.

É, tudo é dual.

As melhores histórias, as melhores brincadeiras, as melhores viagens de trabalho. Amigos inesquecíveis. Intensivo em conhecimento, três anos em um. Uma novidade por dia. Oportunidades únicas de desenvolvimento pessoal e profissional. Investimento em estudo. Acompanhamento individual de carreira.

Muita cobrança. Perfeccionismo. Competição. Falta de bom-senso, de empatia e carinho pelo ser humano. Desrespeito às necessidades básicas: comer, dormir, sentar-se direito, lazer, família. Falta de respeito aos limites individuais.

E a tal da “pirâmide”. A famosa “pirâmide hierárquica”, que me fez em trinta segundos perceber quem era quem, na mesa do gerente licenciado e que acabou gerando uma pequena reflexão, piegas, mas sempre, reflexão.

Onde quer que a gente vá, a única coisa que levamos é o que aprendemos com nossas experiências. E isso, como tudo, também é dual. O importante é lembrarmos com saudades dos momentos de felicidade e alegria e utilizarmos os momentos de sofrimento e dor, como exemplo do que não queremos mais que faça parte da nossa vida.

domingo, 8 de agosto de 2010

"ACIDENTE NA SALA" - FERREIRA GULLAR

Durante a FLIP, Festa Literária Internacional de Parati deste ano, na Tenda dos Autores, Ferreira Gullar leu três novos poemas que compõem seu livro inédito de poesias, que será lançado mês que vem.

Ferreira Gullar, esse poeta octagenário e ganhador do prêmio Camões de Literatura, comentou que, para ele, a poesia não nasce do sofrimento, mas sim do espanto.

Disse ele: " Vocês estão cansados de ouvir dizer que fazer poema  é um sofrimento.  É mentira. O poema é a alquimia que transforma dor em alegria estética. A arte existe porque a vida não basta."

E falando sobre seu processo criativo na seara da poesia, ainda comentou " Ela nasce do espanto, não é milagre. A gente pensa que está tudo explicado, mas não está. E qualquer coisa pode espantar um poeta". Encerrou descrevendo como o poema "Acidente na Sala", surgiu exatamente do seu espanto com algo simples e do cotidiano.

Dentre os poemas lidos,  foi justamente esse que mais "sacudiu meu esqueleto" e de forma "espantosa"...

Segue transcrição do que ouvi no vídeo (não garanto ser fidedigna, às vezes acho que sou meio surda):


ACIDENTE NA SALA



Movo a perna esquerda de mau jeito
E a cabeça do fêmur atrita com o osso da bacia
Sofro um tranco
E me ouço perguntar
Aconteceu comigo  ou com o meu osso?
E outra pergunta
Eu sou o meu osso?
Ou sou somente a mente que a ele não se junta
E outra, se osso não pergunta, quem pergunta?
Alguém que não é osso, nem carne, que em mim habita 
Alguém que nunca ouço
A não ser quando no meu corpo um osso com outro osso atrita?


NÃO PERCO A FLIP DO ANO QUE VEM POR NADA DESSE MUNDO!!!

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

QUEM DISSE QUE SÃO OS OLHOS OS ESPELHOS DA ALMA?

Hoje conversei com um grande amigo pelo MSN, ele no Rio de Janeiro, eu aqui em São Paulo.

Groselha vai, groselha vem, comentei que tinha me ocorrido uma ideia brilhante de tema para escrever um livro. E que esta obra viraria um best seller, rendendo tanto dinheiro em direitos autorais, que eu nunca mais precisaria trabalhar. Ainda complementei o pensamento em clima de "sonho",  comentando a história de vida do Stephen King. Antes de escrever "Carrie, a Estranha", seu primeiro livro, ele vivia de forma bem humilde em um trailer e, por não acreditar que esse livro daria certo, quase cometeu um crime literário ao jogar o rascunho do primeiro capítulo  no lixo, o que foi impedido a tempo, por sua esposa que resgatou os manuscritos antes que tudo virasse um grande nada.

Meu amigo, muito curioso, insistiu em saber do que se tratava essa minha "ideia". Eu, por outro lado, teimei em dizer que não podia contar, afinal, imagina se ele se apoderasse disso e se tornasse o autor desta grande obra que estava na minha imaginação!? Ele riu, daquela forma que só as pessoas que usam o MSN conseguem comunicar que riram e eu, pra tornar a coisa toda mais engraçada e instigante ainda disse: OK, vou te contar, porque sei que você teria preguiça de escrever esse livro!!!

Então, comentei que precisaria desenvolver todo o enredo, mas que em resumo a história era sobre um personagem que se sentia angustiado, triste e sozinho, sem rumo na vida e que, por acaso, encontrava uma máquina de programar o destino. Essa máquina era incapaz de voltar no tempo para consertar o que já havia acontecido, mas que poderia mudar o futuro. Ainda referi que não sabia se daria um tom infanto-juvenil ou se daria um ar de auto-ajuda.

Neste momento meu amigo interferiu e comentou: sei, rsrs, ele parece bem brasileiro, tá na roça e, deixa eu adivinhar, no final ele vai se ferrar, né? Vai descobrir que não adianta nada controlar o destino!!!

Comentei que se fosse de auto-ajuda sim, mas se fosse infanto-juvenil eu poderia inserir monstros, fadas e coisas sobrenaturais na história, além de poder dar um fim inusitado ao livro.

Aí meu amigo disse: isso aí tá parecendo "De Volta para o Futuro". O enredo lembra também "Minority Report" ou mesmo os "Doze Macacos", lembra desses filmes?


Demos muita risada, rs!!! Eu assisti "De volta para o Futuro" com minhas amigas faz duas semanas, em uma festinha "Anos 80" que fizemos na casa de uma delas. (A foto abaixo é de nossos "topetes"). Ficou bem claro pra mim que a ideia não é nada original...na verdade não é uma ideia para um "best-seller" como eu pensava.

Voltamos às groselhas....e discutimos que no fundo tudo é cópia de tudo. Disse a ele que pra mim, por exemplo, Matrix é uma "releitura cult" do mito da caverna do Platão (isso não deve nem ser ideia minha, devo ter lido em algum lugar)...depois pensamos em conjunto sobre um possível programa no estilo "Reality Show" pra ele criar....groselha vai...groselha vem..... e ficou pra mim a grande mensagem de todas....nada como amigos...os grandes espelhos da nossa alma.

Sem sombra de dúvida, a próxima grande ideia para escrever um "best-seller" que eu tiver, passará pelo crivo do meu amigo e de tantos outros, antes mesmo de ir para o papel.

"Carrie, a Estranha" não existiria, se a esposa de Stephen King não tivesse chafurdado no lixo naquele dia.

QUEM DISSE QUE SÃO OS OLHOS OS ESPELHOS DA ALMA?