domingo, 8 de agosto de 2010

"ACIDENTE NA SALA" - FERREIRA GULLAR

Durante a FLIP, Festa Literária Internacional de Parati deste ano, na Tenda dos Autores, Ferreira Gullar leu três novos poemas que compõem seu livro inédito de poesias, que será lançado mês que vem.

Ferreira Gullar, esse poeta octagenário e ganhador do prêmio Camões de Literatura, comentou que, para ele, a poesia não nasce do sofrimento, mas sim do espanto.

Disse ele: " Vocês estão cansados de ouvir dizer que fazer poema  é um sofrimento.  É mentira. O poema é a alquimia que transforma dor em alegria estética. A arte existe porque a vida não basta."

E falando sobre seu processo criativo na seara da poesia, ainda comentou " Ela nasce do espanto, não é milagre. A gente pensa que está tudo explicado, mas não está. E qualquer coisa pode espantar um poeta". Encerrou descrevendo como o poema "Acidente na Sala", surgiu exatamente do seu espanto com algo simples e do cotidiano.

Dentre os poemas lidos,  foi justamente esse que mais "sacudiu meu esqueleto" e de forma "espantosa"...

Segue transcrição do que ouvi no vídeo (não garanto ser fidedigna, às vezes acho que sou meio surda):


ACIDENTE NA SALA



Movo a perna esquerda de mau jeito
E a cabeça do fêmur atrita com o osso da bacia
Sofro um tranco
E me ouço perguntar
Aconteceu comigo  ou com o meu osso?
E outra pergunta
Eu sou o meu osso?
Ou sou somente a mente que a ele não se junta
E outra, se osso não pergunta, quem pergunta?
Alguém que não é osso, nem carne, que em mim habita 
Alguém que nunca ouço
A não ser quando no meu corpo um osso com outro osso atrita?


NÃO PERCO A FLIP DO ANO QUE VEM POR NADA DESSE MUNDO!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário