quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Os Invisíveis


Houve momentos na minha vida em que quis ser invisível ou mesmo possuir a capacidade de assim me tornar. Quem sabe até possuir uma capa mágica, de invisibilidade, para poder passar despercebida por várias situações e não ser notada em determinados locais.

Dizem que isso geralmente é desejo dos tímidos, o que não sou. No meu caso é a mais pura curiosidade misturada com a sensação de inadequação, de não pertencimento ao comum, que sempre me acompanhou ao longo da vida.

Não se trata de uma vontade de sempre ser invisível, mas sim de poder controlar a minha identidade real, de ser visível ou invisível aos olhos dos outros quando eu quiser. O mais provável é que (in)conscientemente eu deseje o tão sonhado auto-controle, aquela atitude rara e tão desafiante para as pessoas impulsivas e espontâneas como eu, mas que não deixa de delinear uma das facetas do que realmente sou.


Triste deve ser a invisibilidade permanente.
Há profissões que contribuem para isso e acabo por me perguntar se quem optou por elas ou foi por elas engolido gosta e quer ser invisível.

Hoje, no trajeto ao trabalho, observei os garis varrendo, recolhendo lixo e pedindo jornais aos entregadores da Metro, na esquina da Berrini com a Roberto Marinho. Os heróis que limpam as nossas sujeiras e a nossa falta de bom senso ecológico só não são totalmente invisíveis porque obrigatoriamente vestem uniformes cor de laranja, com faixas fosforescentes, para garantir que nenhum motorista distraído os atropele durante a jornada de trabalho.

Veja que é necessário o uso de vestuário com essas características, dada a invisibilidade permanente destes cidadãos que fazem um dos trabalhos mais nobres e um dos menos valorizado pela sociedade atual.

Chegando ao trabalho entrei no elevador. Uma moça muito bem penteada e maquiada olhou para mim e sorriu. Disse que infelizmente estava atrasada, o que eu retruquei com um "não se preocupe, eu também estou". Achei ela deveras simpática, afinal estava conversando comigo, uma desconhecida.

Para minha surpresa ela desceu no mesmo andar que eu. Dirigiu-se para a mesma porta que eu e, como se não bastasse tanta coincidência, falou com o guarda da recepção da empresa onde trabalho. Pediu desculpas pelo atraso, sentou atrás do balcão e vestiu o casaco do uniforme. Com um largo sorriso deu bom dia a outros colegas meus que passavam o crachá na catraca.

Descobri que a recepcionista, a quem dou bom dia e boa tarde todos os dias, fora do contexto, para mim é invisível.

Não a reconheci e constatei, tristemente, que ela falara comigo de forma tão simpática durante o trajeto no elevador justamente porque me reconheceu, ou seja, porque para ela eu sou visível.




2 comentários:

  1. Isto é ser distraída, coisa que para mim é um tormento. Não significa que não te importas, só tens zilhões de idéias passando pela cabeça. Bjs. Gostei do post! Identifiquei-me...

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