Sempre que escuto a expressão “eu me finava quando era pequena” tenho sentimentos peculiares. Há a sensação de saudade, “de volta pra casa”, porque para usar esta expressão a pessoa tem que ser gaúcha ou pelo menos ter vivido no Rio Grande do Sul, ao mesmo tempo em que sinto um orgulho bairrista egoísta e, diga-se de passagem, nada nobre, admito, de saber que nenhum dos “não-gaúchos” participantes do diálogo sabe o que aquilo significa, acompanhado de um sentimento de identificação psicológica: encontrei alguém que fazia algo que eu já fiz quando era criança!!!


Rimos muito, principalmente porque eles comentaram que o pediatra dizia que “pior do que aguentar criança que se fina é aturar a mãe delas”.
Comentei a história com minha mãe e ela, aos risos, relatou-me: “Tu te finavas!!! Tu não vais lembrar, tu eras muito pequena!!! E aconteceu várias vezes...Eu resolvi o problema sem querer, tu não vais acreditar! Uma vez tu estavas te finando...eu fiquei completamente desesperada e saí correndo contigo no colo, tu tinhas uns três anos...na corrida e no pânico, sem querer, bati a tua testa na porta de correr que tinha entre a sala de estar e a cozinha....finalmente tu conseguiste chorar e depois daquilo, graças a Deus, nunca mais te finaste...serviu de lição...” (OBS.: não tive coragem de escrever como falamos...a gente não conjuga o verbo na segunda pessoa, rs).
“Finar-se” significa, segundo o iDicionário Aulete de Língua Portuguesa: acabar; findar; perder vitalidade, força; consumir-se; delibitar-se; chegar ao final; encerrar atividade, ciclo, existência.
Esta expressão é utilizada no Rio Grande do Sul como sinônimo para “espasmo do choro ou do soluço”, também conhecido popularmente como “crise de perda do fôlego”. Atinge bebês e crianças de zero a quatro anos.
Esta situação ocorre quando a criança leva um susto, é contrariada ou sofre uma frustração, então, para chamar a atenção dos pais, numa espécie de “chantagem sem palavras”, ela prende a respiração até desmaiar. Normalmente isso acontece em conjunto com o choro. É como se o choro fosse tão forte que a criança ficasse temporariamente incapaz de respirar. Algumas chegam a ficar roxas, desmaiam, viram os olhos, mexem desgovernadamente os braços e as pernas, geralmente assustando muito os pais. Parece, para quem assiste, um evento antecedente a uma convulsão, que na verdade, não ocorre nem nunca ocorrerá, pois nunca foi identificado pelos médicos nenhuma alteração elétrica no cérebro, para esses espasmos do choro.
Reza a lenda, que os bebês vítimas de “crise de perda do fôlego” também são vítimas de pais ansiosos e controladores.
Não existe tratamento eficaz e não há sequelas, é somente um estado transitório.
O que mais evita as crises é a conservação de um ambiente sereno e equilibrado e o diálogo e interação com a criança para que ela possa lidar melhor com as contrariedades sem se utilizar deste expediente, digamos, “mesquinho”.
Para que a crise passe, quem estiver com a criança pode soprar seu rostinho, colocar o dedo em sua boca mexendo na língua, beliscar levemente os pés do infante ou mesmo virá-lo de cabeça para baixo.
Ou fazer como a minha mãe...que saiu correndo tão desesperada, achando que a filha ía morrer, que perdeu a noção básica das leis da física (dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, lembram?)...Graças ao galo na testa, parei de “me finar” e comecei, certamente, a fazer outros tipos de chantagem emocional...provavelmente optei por alternativas que tinham mais “garbo e elegância”!!!
Obrigada mãe, por ter aguentado isso!!!
Olá,
ResponderExcluirNão conhecia essa expressão.Realmente é uma relíquea.Gostei.
Um abraço.
Então tá! Eu já imaginava ser controladora, mas não a ponto de fazer minha filha se "finar". Aprendi muito, mas ri muito também. Guardamos com carinho aquela noite no coração. Meu carinho e meus parabéns pela beleza de blog que estás construindo, a começar pelo nome. Bjs
ResponderExcluirSu!
ResponderExcluirPor isso que escrevi "reza a lenda"... vai saber né, é tão subjetivo, rs
Aquele jantar foi muito legal e minha casa está sempre de portas abertas para repetirmos os encontros!
Obrigada pelo incentivo em relação ao blog!!! Inclusive, tenho acompanhado o seu e cito ele na minha listinha!
Abraços,
Carol
rsrsrsr
ResponderExcluirCarol, adorei o texto, so acho que vc esqueceu de colocar uma informação relevantissima: que somente pessoas com QI muito alto "se finam"... rsrsr Viu, mãe, quem mandou dar a luz a uma genia... rsrsrsr
Eu e a mãe da Carol geramos dois turbilhões. Vai saber o que vão aprontar ainda...
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